Para quem não conhece, o Principado das Astúrias não tem nada a ver com a imagem que um português costuma ter de Espanha. Aqui chove, muito, mas muito mesmo… aliás, quando não chove é porque está a nevar. Aqui não há touradas nem flamenco, nem aquela profusão de bandeiras de Espanha que podemos ver noutras cidades do Estado Espanhol.
Entra-se nas Astúrias por um túnel de 5 km, com a sensação de estarmos a atravessar o guarda-roupa das Crónicas de Nárnia. Saímos do sol radiante de Castela e Leão e submergimo-nos numa paisagem arrepiante de nevoeiro, vento e chuva miúda (o típico “orbayu” asturiano).
Muitos portugueses conhecem os míticos “Picos da Europa”, e ficam cada verão estupefactos com estas montanhas que tocam o céu e o mar ao mesmo tempo, quando chegam aos milhares aos parques de estacionamento do santuário de Nossa Senhora de Covadonga, ou aos miradouros de vistas espantosas que balizam a estrada para os Lagos Enol e Ercina, ex-libris da montanha asturiana.
Mas nem todos chegam a visitar o resto do Principado, uma terra repleta de segredos e recantos misteriosos.
Os Picos da Europa não são as únicas montanhas das Astúrias. No centro-sul da região temos a “Montanha Central” com angustos desfiladeiros, que servem de esconderijo para os ursos e os lobos, e que antigamente eram o único acesso às centenas de pequenas aldeias espalhadas por todo o território, onde podemos apreciar a gastronomia da terra (javali, veado e muitas outras iguarias que são o deleite dos paladares mais exigentes).
Nas Astúrias fala-se asturiano, uma língua milenar que forma com o mirandês e o leonês o tronco comum do antigo asturo-leonês. Ainda não é língua oficial do Estado Espanhol (como são o catalão, o galego ou o basco), mas podemos ouvi-la em quase todas as aldeias e vilas do Principado, com sotaques e palavras diferentes, como acontece com todas as línguas, mas com uma riqueza e uma harmonia que nos transporta para tempos passados.
As nossas praias, muitas delas escondidas por impressionantes falésias, são frias, muito frias, mas os asturianos gostamos imenso de mergulhar nelas fazendo prova da nossa valentia à frente dos forâneos.
Quem visita as Astúrias, não pode deixar de provar a “fabada”, que não é feita de favas. Em asturiano chamamos “faba” a um tipo de feijão branco grande com um sabor delicioso (também temos favas, mas aqui são conhecidas por “fabes de mayu”, favas de maio).
E também não se pode sair das Astúrias sem ter experimentado a sidra, a nossa bebida mágica, servida com um ritual ancestral: a garrafa na mão direita com o braço bem esticado sobre a cabeça e o copo na mão esquerda. Usa-se um copo especial, alto e largo, mas só se servem de cada vez dois ou três dedos de sidra no fundo. Bebe-se de um gole, e deita-se para o chão o sedimento que fica no fundo do copo. Beber a sidra de qualquer outra maneira é considerado um sacrilégio.
Nas últimas décadas, as Astúrias teve que lutar para ressurgir da crise causada pela reconversão da indústria, que tinha sido em tempos o motor económico do país inteiro. Mostra disto é o desenvolvimento do agroturismo e do turismo de natureza. Neste âmbito, podemos visitar os muitos museus temáticos, que nos ensinam como era a vida aqui alguns séculos atrás. O Museu das Minas do Carvão em L’Entregu, o Museu da Sidra em Nava e o Museu Jurássico em Colunga são alguns exemplos disto.